sábado, 24 de maio de 2008

Depilator

Ontem cheguei nervosinho em casa. Isabela, minha esposa, estava a me esperar de braços e pernas abertas na cama. Sua genitália exalava cheiro de mastruz com leite. Com os pentelhos ouriçados, incitava-me a depilá-la. Fui até o armário, buscar uma máquina de cortar cabelos, mas dei de cara com um homem nu, seu amante, o tal do Haroldo. Ao constatar isso, não tive outra escolha a não ser matá-los. O promíscuo desgraçado teve que se suicidar depois que depilei, forçadamente, suas axilas. Tarefa fácil, nem precisei sujar minhas mãos. Mas agora era a vez dela, de Isabela. Apesar de todo o horror do momento, masturbava-se como se aquele fosse o último dia de sua vida. Com razão. Lembro-me claramente de seus olhos flamejando enquanto gritava: "VEM, ME DEPILA, SOU TUA, ME DEPILA, VEM SENTIR O MEU PÊLO INFLAMADO". Confesso que me senti seduzido. Mas fui forte, me segurei, fechei o meu ziper. Parti pra cima dela, e fui impiedoso: fiz tranças em seus pêlos, que funcionaram como uma espécie de camisa de força. Então a amarrei, chorosa, melindrosa, acometida, pragmática, retumbante, ousada, sentimental, arrependida e sensual, mais sensualmente sensual do que nunca, e, enquanto gritava palavras de baixo nível, eu dourava seus pêlos pubianos com blondô, usando uma lanterna. Nunca pensei ser capaz de tanta crueldade. Mas Isabela era uma chipanzé muito astuta, um exemplo para qualquer primata. Conseguiu me dirrubar no chão, e pôs-se a pular e gritar em cima da cama, socando os seios, e se declarando a rainha da selva urbana em que vivíamos. Não pensou duas vezes: se atirou pela janela.

Deve ter ido encontrar sua paixão platônica, sim, ele, o King Kong, que de vez em quando dá de escalar prédios né.

Depois disso, raspei a cabeça, e me matei. Mas a mídia não me deixa morrer. Atravessando os canais televisivos, jornais e outros veículos de comunicação, minha alma encontra-se com a dela, Isabela, meu eterno caso. E nos amamos assim, de forma não carnal, mas canal, ideológica, midiática, pragmática, protozoária, zoando na tv, e, juntos, atormentamos o Cidadão Brasileiro, da Record, que um dia, também vai se depilar, perturbado com as nossas repentinas e previsíveis aparições.

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