sábado, 28 de junho de 2008

O Poder

Já se foi o tempo em que você entrava numa sala, sentava numa cadeira, e os soldados te amarravam e ameaçavam. Os tempos mudaram. Hoje, a gente obedece sorrindo. Quem detém o poder simbólico nos convence, sem que a gente nem perceba, que é natural estarmos na posição de dominados. Somos adestrados pra isso, e a cada vez que obedecemos, ganhamos um biscoitinho canino como recompensa. Nada contra biscoitinhos caninos... alguns até que são bem gostosos (com leite condensado, então, delícia, rapaz!). Não reparem nas minhas estratégias enunciativas capengas, é que o sono já está a me penetrar. O café tá borbulhando no meu cérebro, negro como a noite, escuro como as profundezas dos meus sonhos... quero mergulhar na primeira forma horizontal que se materializar na minha frente, e me tornar esse tijolo gelado de trevas. Placebo. Gosto de ouvir. Ainda mais nessas horas, que tudo o que a gente pensa acaba virando espuma, algodão, almofadas, penugens, roupas de cama, maciez, profundidade, espera, viagem, tortura. Deixa eu vazar, que ainda tem muito café pela frente.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Primeira Impressão

Eu te conheço.
Sou teu melhor amigo. Teu pior inimigo.Sem sinceridade exata.
Te preencho de vazio, crio o que não tem.
Então você sente, precisa, e faz.
Teu cérebro cego, surdo, e mudo,
Soluça até que eu te de o remédio.
Meu burrinho obediente.
Te encho de insultos sedutores,
Teus ouvidos não resistem.
Você se acha consumidor,
Mas eu te consumo, assumo, possuo, e não te deixo em paz.
O mais adoravel desconforto, o mais insensivel desejo,
A belaza mais rasa, a satisfação mais insulficiente.
O amor reciprocu, adequadamente impróprio.
Sou semi-deus, minha onipresença, potência, e ciência,
São regras falhas...
Todo dia mais um, pois a exceção é a minha sina,
Meu carma, te quero e não desistirei de ti.
Sou o único cumplice em comando,
A única cópia original,
O único capaz de fazer coexistir bem e mal.
Eu e você, juntos somos dois,
Inseparáveis,
Até que sua morte nos esqueça.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Uma estranha cadência

É alucinante. O bombardeio, o fluxo, as mensagens, são meteóricas. Passam por mim como vento, com aqueles grãozinhos de areia insistindo em perfurar a pele. Tentam me levar pra trás, mas eu resisto. Até que resolvo saltar, e viajar com eles. Uma luz perturbadora invade o meu estômago, de baixo pra cima, até fazer tudo virar de cabeça pra baixo, e girar, e girar. Sou um pedaço de luz, cadente, viajante, livre. Informação.
Sou levado pelo vento, uma viagem louca, translúcida, transversal e horizontaldina, com muito fervor de adrenalina. Até que consigo alcançar uma pequena foto três por quatro, e

-

tudo escuro, o tempo pára. Nesse momento, somos só eu e ela. Na foto, seus olhos me dizem uma única mensagem. Uma profundidade inalcansável de um olhar. Tudo gira, é apenas um globo da morte. Então mergulho na foto.

Eternidade.

É uma estranha tensão entre o ser atemporal e o estar instantâneo. Um leve arrepio que percorre desde a infância até a efemeridade de uma ruga. De repente, tudo parece tão obsoleto. Volto à cena de uma leve troca de carinho, um olhar, no canto de uma sorveteria. Sou fragmento de eternidade, digitalizado, impresso, reticulado, imortal. um pedaço de papel voando a percorrer o mundo inteiro junto com as folhas secas. Um amontoado de dados a se reconfigurar numa rede infinita de significados. Um breve sorriso, espontâneo, artificial, arrepiante. Um quase gemido de felicidade. E não vivi. Feliz. Para sempre.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aquelas coisas de sonho sabadinal

Consigo pensar que a culpa sempre foi minha.
Seu sorriso sacana profissional até parece bonito daqui.
Trinta mil portas se fecharam pelas minhas costas, cada canto do meu quarto está imundo.
Mas desde que te conheci só quero arrumar meu paladar e inventar a desculpa de perguntar as horas pra manter contato.
Aceita passar a insônia na sorveteria? Serei o sorvete de manga e você o de menta.
Quero gargalhar vendo as palmilhas dos nossos tênis encharcadas pela chuva.
Agrada-me aquela atmosfera de pés na grama. Vivas ao anagrama de ROMA.
Verdadeiro ou falso? Na frente da sua cara ouço uma batida oitentista.
É verdadeiro, é veraneio. Chegou o tempo perfeito de pôr camisetas no varal e entender que a bondade cabe na xícara de chá das oito.
Aposto que o espelho da Branca, aquela de neve, está pronto pra contar o que a tempos eu enxergava.
Quando chegas falta em mim cartas na manga, manga da manga e não manga da blusa.
Todo o repertório musical das mentes próximas toca em minhas mãos, nervoso.
Prepare os óculos escuros, pegaremos a estrada, Bonnie e Clyde bonzinhos, vento nos cabelos e os clichês da vovó no porta-malas.
Todo tempo sempre tempo de piscinar em batatas fritas e todo creme será de maçã.
Ofereço-te a frase mais pós-moderna e romântica: Fica aí oras! Toma um suco comigo.

Jorge Amado me ensinou o dó-ré-mi.

É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”.
Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço.
Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado. Percatas no pé, prontos para sentir o calor resfriado do asfalto depois da chuva. Vamos a lavanderia do meio da rua? O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa.
Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde. Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.
Então foi assim, ficou aprisionada na vitrola a mesma música, no fundo do copo de fanta-uva os acordes, o tempo continua. Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. É quando a mente escolhe reviver um momento perfeito, daqueles que o coração fica arritimado e tudo em volta parece silenciar (enquanto o nervoso queima o gerador de energia do bairro).
Chegamos ao ponto indecente da questão, olha-se para o passado e não há mais trinta carros te perseguindo e nem aquela gente chata para vomitar em ti. O tempo da brilhantina virou texto de livro didático, as coisas enfeiaram, Drummond morreu. Se já não bastasse o enferrujar do baço, do figado e do pulmão, o hiperordinário cotidiano enferrujou nossa saliva, nosso sentimento e nossa alma. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.
Sem sustentabilidade nos meus joelhos, ficar em pé é e deve ser questão de treino. As coisas tem melhorado, disseram na tv que as tomadas terão formato universal, isso que é romantismo.
Ouve! É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador. É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porqueesse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada. Só posso me arriscar a pretender falar contigo com a presença de uma aeromoça, preciso saber como usar a máscara de oxigênio em caso de turbulência e quanto as saídas de emergência, no linguajar das atendentes de marketing, te digo: ‘estaremos dispensando’.

Monique Malcher.

domingo, 8 de junho de 2008

Confissões de Aeroporto

Este pequeno brechó virtual se destina a Belém do Pará - embarque pelo portão 3. São mensagens passageiras, secretas, quase que alfandegárias. O tempo passa voando! E eu também, rs.

Acabo de vir do turbo 7. O sétimo dia. Engraçado, porque daqui a pouco vou ensaiar uma peça chamada os sete erros, que é na verdade uma abordagem investigativa intuitiva descunfundelhada dos mistérios que permeiam, cercam, traspassam e madeixam o número 7. Voltando ao assunto, essa semana descobri que Manaus é um coração. Voltei até com um layout diferente, ê, mentira. Mas sim, me apaixonei pelas lâmpadas do mercado moderno, pena que não estavam à venda! AEHRAHRAHRARHARHARHARHARHAR

Cof cof, três dois um. Está no ar o boletim de notícias de como levar uma saúde psico-social-sexual-traumática-transbandelinda-passageira - e, é claro, onomatopéia -lógica saudável e sem melancolias aparentes.

Dica número um: ponha folhas de plantas amazônicas nas axilas antes de dormir. Você vai ficar com um cheiro muito mais natural. Fica a dica, hein, porque você sabe como é, né, é isso aí.

Dica número dois: pare de fumar. O vício só leva à intolerância, e a intolerância leva à indulgência, e por conseguinte a malária, febre aftosa, e, finalmente, pâncreas intestinal. Porque você sabe! - lugar de pâncreas não é no intestino. É na cabeça. Pense nisso.

Dica número tracinho: eu não sou seu bichinho de estimação! Cuide bem de seus bichinhos. Não esqueça de dar sempre a ração, senão eles morrem!

Dica número só love: experimente ir ao motel com amigos. São os melhores lugares para se jogar dinheiro fora.

Dica número nhánhánhá: www.pornotube.com

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Meu querido Pingo de azulniverso.

o ziper se fecha
invólucro.
casulo.
eu,
,
um lugar
um não-lugar
um talvez-lugar
um certamente-absolutamente-lugar
território imaterial
quadrado
retangular
poligonal
cilíndrico
esférico
escorrendo
líquido.
,
o ziper se fecha
posso ser o que quiser
em qualquer época
em qualquer pessoa
em qualquer enredo
em qualquer absurdo.
sou sombra
fluida
traiçoeira
artística
eclética
indefinida
qgcpajeç's
oo
esquizofrênicas esquizofrenias
o ziper ainda não fechou
estou tecendo
estou moendo
estou roendo
sim, roendo
estou cantando
dançando, espremendo, dobrando
linhas, retas, tortas, bordados
pautando o céu
com beijos
...
sem ziper, sem saída
um invólucro.
uma gota.
um oceano particular
um infinito azul, meu coração, alma, sangue
um sonho vivo,
e as pessoas lá fora
e os humanos lá fora
e os bichinhos lá fora
e as plantinhas lá fora
e os ventinhos lá fora
o mundo;
em outra dimensão
tão distante que posso tocar.
eu
vivo no buraco negro
nas plumas
nas nuvens
nas molduras
moles
e duras
posso vê-los, mas eles não me vêem
hahaha!
haa
me torno invisível
morto para o mundo
nascimento em potencial
surgimento em potencial
aparição em potencial
assombração indesejada
transparente
invisível
vago
entre eles,
sem me mexer
broto em meio a seus cabelos
em meio a seus seios
sou fruto de seus sonhos
flutuo no suco
bebendo estrelas
e girando dentro de um globo que simula movimentos translatórios em
3d
sou eu, o detalhe
sou eu, o imperceptível
os ouvidos das paredes que têm ouvidos
sou eu, que passa despercebido ao olho nu
curtindo
alimentando
dançando
nadando
entre vocês
surfando
numa bolha de infinito prazer
de infinita doença
de infinita loucura
de mim
de nós
de ti
de
.