terça-feira, 19 de agosto de 2008

Linda de morrer de AIDS

Tem um cerotinho bem aqui, na parte da frente do meu cotovelo. Não, aí não, aí faz cócegas! Um pouco mais para cima, isso, não, mais pra direita, agora, isso, continua, continua... Sabe, eu tava pensando, ontem a noite, enquanto tirava minhas cutículas, que eu nunca fui tão, tão... como dizer? Ai, mais forte, desse jeito nem vai adiantar! Escuta aqui, vou dizer uma coisa, eu não tomo banho a dois dias e meio, então é bom você tratar de buscar aquele sabão de coco na cozinha, porque senão eu vou te dar uma escovada na cara, tratante, farsante, melindrante, desodorante. E não vou parar por aí não! Minha fama vai alcançar as águias do céu, e os animais que se arrastam pelo chão, e os peixinhos do mar, e todas essas cobras que habitam a vizinhança! E também espalharei de ti, espalharei de teus amores, teus fervores, tuas dores, e também vou contar pra todo mundo que a 3 anos, 4 meses e 5 semanas atrás deixastes a água fervendo até a panela secar! Crápula! Eu sempre te amei, e sempre te amarei, vem aqui coçar o meu sovaco

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Tetris, perseverança

É tarde demais. Eu estava no palco, dançando com o pedestal enquanto os backvocals cantavam uuuuu, mas um balde de tinta amarela desceu sobre mim. O balde estava lacrado. Mas era pesado, e veio com toda a força na minha cabeça.

-Sabe, eu estava pensando.

-O quê?

-Às vezes o destino parece implacável, né?

-Como assim.

-As vezes parece que é cruel, injusto... as vezes, parece que tudo é manipulado por um grande palhaço malvado, que faz tudo somente pra brincar com a gente, com os nossos sentimentos... e rir da nossa cara depois.

-Um dia, eu vou saltar de dentro de um sete de copas, e vou furar o olho desse maldito CORINGA!

-Calma, calma. Muitas vezes, esse coringa também é manipulado pelo destino, que é um coringa maior e mais complexo. Veja bem. Quando passamos por momentos muito difíceis, nossas vidas têm a oportunidade de crescer em sabedoria.

-Eu ainda prefiro cortar as mãos desse idiota.

-Existem certas ocasiões que provocam desilusões violentas e cardíacas. Mas, quando se apaga a luz, o escuro pode ser a oportunidade de sentir o lugar onde você está de outra forma.

De certo modo, a esperança é um alimento que merece estar na dispensa. Mas não no meu prato de comida brasileiro.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

bissexualidade

-É que eu queria perder a virgindade com você.

-Calma, cara, eu nunca nem vi o teu pinto.

-E qual o problema disso?

-Sei lá... vai que na hora de me abrir, tu tem um pinto pequeno.

-Algum problema com pintos pequenos?

-Meu filho, pro estado que eu estou hoje, não é qualquer coisa que preenche...

-Quer ver agora? Posso ligar a web cam.

-Não, acho melhor não... Sabe o que é, uma amiga minha teve uma experiência de pinto virtual, e não foi nem um pouco agradável.

-Como assim?

-Era um antigo professor de história dela. Ele tava dando em cima dela, aí eles começaram uma conversa de vídeo e tal, mas quando apareceu a imagem dele, ele tava com o pau na mão, batendo pra ela, e era um pau tão miudinho... deve ter sido traumatizante pra coitada.

-Como é que você sabe?

-Ela me mandou um print screen... Depois disso, transamos a noite toda.

-Como assim? Não sabia que você gostava disso.

-Adoro!

-Vamos transar?

-Não.

-Por quê?

-Porque você está se masturbando agora.

-Como você sabe?

-Eu conheço garotos do teu tipo, cara. Cuidado pra não melar o teclado, rs.

-Algum problema com masturbação?

-Não... na verdade, sim, quer dizer, depende.

-Como assim "depende"?

-É que eu estou me masturbando agora também.

-Nossa! Mas eu não estou me masturbando.

-Não?

-Não.

-Azar o seu. Porque eu não estava pensando em você, mas sim numa revista.

-Qual revista?

-A IstoÉ dessa semana. Tem uma matéria falando da Dercy e tal.

-Dizem que ela foi mumificada...

-Mas isso eu já sei que ela é!

-Ah, francamente, você não está se masturbando. É brincadeira, né?

-Porque eu estaria brincando?

-Pra me deixar excitado... agora já comecei a me masturbar e já gozei duas vezes.

-Hum, você é rápido!

-Modéstia à parte... mas nunca fui muito fã desse negócio de ejaculação precoce.

-Vou te contar uma história. Posso?

-Só se for excitante.

-Vamos lá. Semana passada, eu estava na casa da minha tia. Minha tia é uma velha muito astuta, sabe? Quando ela me viu, da varanda, tratou de pegar sua bengala e correr ao meu encontro. Ela tentou fazer uma manobra, para descer as escadas escorregando pelo corrimão, mas acabou morrendo

diálogo entre periquitas

-Sabe o que é? Eu vou abrir o meu coração. Vou me despir para você.
É que na minha casa, tem umas pedrinhas, sabe? Umas pedrinhas, guardadas bem escondidinhas, em cima da sola do meu sapato. Embaixo da língua. Sabe o que é? Essas pedrinhas as vezes incomodam. Aí eu deito na minha cama, e vejo moscas. São mosquinhas, voando. Me alimento delas. Ligo o meu radinho de pilha, e me ponho a dançar e zunzunzar com elas. É um ritual cabalístico. Elas pousam na minha pele, e então fazem cocô. É aí que elas puxam com todo o cuidado, cada fio de cabelo. Elas os esticam, até me envonver num casulo. E é aí que começa toda essa história! Você pode compreender agora?

-Eu te amo.

-Como ia dizendo. Tudo começa com o casulo. E aí, adivinha o que acontece? Eu começo a sonhar... e em cada sonho mais louco, eu percebo o quanto uma pequena faísca entre pedrinhas pode mudar uma história de vida. As pedrinhas se encontram, e pum! Não é lindo? Pedrinhas no sapato podem ser tudo o que falta nessa vida. Por isso encho cada sapato de pedrinhas, assim meu andar será como os das faíscas, pelo encontro das pedras. É como dizem sobre os beijos entre gays e lésbicas... uma espécie de choque. Nunca mais encontrarei pedras no meu caminho, pois elas já estão dentro de cada tênis! Falando nisso, eu já te disse que te amo hoje?