quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Curuminha

(Por Delianne Lima)

Ela saía da sala como se saísse de uma sessão de tortura. Ouvido torturado, dolorido, pedindo ajuda. Seus passos saíam lentamente do seu corpo, como se não houvesse controle. Ela via seus pés pequenos, seus dedos grandes. Percebendo-se, já estava no portão. Estava escuro. Os lixeiros ali à frente, trabalhando na escuridão de seus pensamentos. Não tinha mais forças pra andar. E nem vontade. A vontade mesmo era de sair dali com toda a força. Gritar aos quatro ventos. Só gritar. Não havia palavra certa, a dor não se revertia em palavras. Era apenas grito. Grito e suor e lágrimas. Os pés cambaleariam de falta de rumo.

Era isso. A falta de rumo era evidente. Era tão evidente, que a tratava com força e, sem misericórdia, a colocava contra as coisas e pessoas mais importantes de sua vida. Ou que ela achava, pelo menos. Vai que assim o rumo se acharia e a encontraria. Metas a encontrariam. Uma vida a encontraria e pediria, por gentileza, para acomodá-la. A vida. A vida aos vinte anos não é fácil. Uma das épocas onde a distância é extremamente real.

Ela, então, abriu a bolsa e pegou seu caderno. Aquele desenho seguido de poema a fazia odiar. Arrancou-lhe do caderno e arrancou-lhe a vida. O papel amassado escorria por entre as águas da chuva e ia embora, devagar, devagar.

O papel já não existia.