quinta-feira, 31 de julho de 2008

Galatéia Spears

Antes de Galatéia Spears, havia somente Deus. E Cindy Lauper.

Galatéia Spears apresenta o Disney Club. Galatéia lança um CD. Galatéia fica em primeiro lugar no Disk MTV. Galatéia canta pra mais de 800 mil pessoas no Mangueirão lotado. Galatéia cheira coca. Galatéia faz xixi. Come um Big Mc. E volta ao banheiro pra fazer cocô.
Galatéia faz show com Madonna e Cristina. Galatéia paga peitinho em Manhattan. Galatéia termina com Justin. Galatéia beija Cristina. E a Madonna também. Ela sai na capa da Vogue. Cheira mais uma carreira de coca. Grava mais um cd. Ri e vomita bêbada no sofá da Paris Hilton. Deixa o miojo secar e chega atrasada no Grammy.
Galatéia lança um cd novo. Faz pose para os Paparazzi. Foge dos Paparazzi. Cansa dos Paparazzi. Chora quando ninguém tá por perto. Mistura prozac com cerveja. E Fica em primeiro lugar na parada da Billbord. Às vezes, Galatéia leva o cachorro pra cagar. Sente falta da irmã e da mãe. Trepa com o dançarino novo. Dá uma entrevista no "Oprah Winfrey Show".
Galateia lambe a tampa do iogurte até não sobrar nada. Assiste o DVD da Alanis. É vaiada no Rock in Rio. Esquece a letra de "Ops, I did it again". Cheira outra carreira de coca. E esquece de ir no aniversário da Drew Barrymore. Se irrita com os tablóides. Chupa o dançarino novo. Toma banho no quintal de casa. E sai na capa do jornal. Galatéia desaparece das paradas de sucesso. Engorda. Raspa a cabeça. Raspa a periquita. E dá vexame na saída da festa.
Galatéia também briga com a mãe. E engravida do dançarino. Grava mais um videoclipe. Experimenta uma picada, porque pó já não dá mais a mesma liga. E fica triste porque não leva nada no Grammy. Ela é vista aos beijos com o ex da Julia Stiles. Faz ultrasonografia. Sente ciúme do Justin com a Cameron, na capa da revista. Fica entre as mais mal vestidas. Bate o carro no poste da esquina. Grita pra todo mundo ouvir que a Cristina é uma vadia.
Galatéia suja o dedo no vidro da geléia. Galatéia espirra. Galatéia vai ao supermercado de chinelo. Galatéia faz parto normal. Galatéia se casa de roxo. Galatéia aparece de olho roxo. Galatéia se separa. Galatéia luta na justiça pela guarda dos filhos. Galatéia na reabilitação. Galatéia dirige sem carteira de habilitação. Galatéia ostenta sua autocomiseração. Galatéia no fundo do poço, coitada! Vai tentar se reerguer fazendo dueto com a Rihanna.
Ela cansa. Cansou de ser Spears. Ela queria apenas ser Galatéia. E vender outros milhões de discos mais. Em paz. Pobre Galatéia Spears. Deixa a coitadinha descansar em paz. No coração dos esquizofrênicos aparatos midiáticos. Bem no CEDOC* da MTV.

*CEDOC é um Centro de Documentação, local onde as emissoras de televisão arquivam as suas imagens no decorrer dos anos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Rehab para um Floco de Neve

Fina neve do sertão. Brilhante como naftalina. Branca feito o dente do preto da Guinéa. Saltintando impávida nas savanas bolivares. Tilintando sublime sobre os cedros imperiais austríacos. Segue firme pela estrada de Santos, oh, fina neve! Rebolando feito Rita Cradillac. Mais bonita que Claudia Cardinalle. Leve e sóbria como Amy Winehouse. Voando pulsante pelas colinas mais distantes, onde os Telettubies vem brincar. Vai fundo. Até o chão. A boquinha da garrafa é o limite. Nada é impossível para ti, pequeno e inútil floco de neve. Subindo aos céus. Imortal como Dercy Gonçalves. Forte, sexy e ardente. Derrete vagarosamente. Puro deleite. Gozando na Patagônia. Esfuziante. Dançando Conga. Pro nosso corpo ficar Odara. Feito uma otária. Oh, fina e inútil neve do sertão.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Madeline

- Oh, estava te esperando! Como foi lá?
- As passagens estão compradas.
- Que ótimo! Seu perfume está em cima da mesa. Josefina embrulhou para presente.
- Não precisava!
- Você acha que vai demorar?
- Um pouco. Pedi sem molho inglês.
- Então vai dar tudo certo, fique despreocupada.
- O Sr. X deve ligar às 20h. Por favor, me ajude a desabotoar isso.
- Oh, claro. Um minuto.
- Há muitas garotas lá.
- Estive pensando, quantos anos fazem desde que ele foi embora?
- Não lembro. Obrigado!
- Às vezes, ela me dá medo.
- Oh, querido, você é maravilhoso!
- Que isso. Você é que sensacional.
- Posso mata-lo?
- Claro.

[UMA PAUSA]

- Você mentiu para mim.
- Por favor, acredite, eu jamais mentiria para você
- Ele sempre esteve aqui, era tudo uma farsa.
- Está na hora, vista-se.
- Madeline está viva

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Deu pra ouvir a sua punheta no quarto

Acordei assustado com aquele barulho insistente. Shhhiiiii. Tisc. Tisc. Tisc. Levantei, abri a porta, atordoado. Olhei hesitante para o corredor escuro. Percebi que aquele som inconveniente vinha do banheiro. Apertei o passo. Abri a porta abruptamente. E então vi você se masturbando ferozmente, apoiado sobre a pia. De frente para o espelho. Suado sob a luz esfuziante da penumbra.

Ora, essa, eu já devia ter imaginado. Era tudo uma punheta sua. Seu punheteiro filho da puta! Você não faz nada além de se masturbar. Fala de mim, mas no fundo, não passa de um punheteiro. Tudo o que você faz, tudo o que você diz, tudo é a mais pura masturbação. És incansável. Tão empenhado em fazer com que todos reparem no seu instrumento que chega a fazer barulho.

Ora, veja só, eu até acordei! Ahauhau! Agora que eu me dei conta de que você me acordou com essa sacanagem toda, tô achando tudo tão engraçado! Que susto! Ahuahau! O seu pinto já ta até ficando mole! Ahhaua! Quanta petulância da sua parte atrapalhar o meu sono com a sua masturbação, hein? Já não basta tudo o que você faz? Eu hein! Pode continuar aí, não tem problema. Eu não fui nada além de uma bronha na sua vida., mesmo! Pode continuar. Eu vou voltar pra cama. Mas não faz mais barulho, ok? Beijos, limpa tudo depois!

(Fechei a porra da porta)

Pensei, depois disso, que tem muita gente que vai ficar na punheta pra sempre porque jamais vai aceitar outro alguém pra dar uma mãozinha no seu show.

Quanta vaidade.

Dormi.

Notas sobre uma reticência

Hoje caminhei entre as folhas de papel em branco do meu pensamento. Caminhei por horas, refleti bastante sobre as cores e os pincéis mais adequados. De repente, como de costume, as minhas folhas em branco se misturaram com as tuas, já rabiscadas. Por vezes tento evitar que isso aconteça, mas essa força estranha que nos aproxima não permite.
E então, mais uma vez, me vi a ler teus pensamentos, teus versos confusos e mal arrumados. Não sei se sou deveras pertubado, ou se és tu quem domina muito mal essa arte das letras, mas fiquei um tanto quanto decepcionado com o que li. Não havia nenhuma novidade em teus escritos. Muito pelo contrário. A tua poesia continua morna. Quase sem forma. As cores da tua pena também continuam as mesmas. Só escreves sobre as estrelas que giram na órbita do teu umbigo. É tão cansativo e entediante. Não há nada mais poético pra você. Não há nada mais sem graça pra mim.
A primeira vez que eu olhei nos teus olhinhos cor de fanta e cereja, eu vi o mundo inteiro refletido. Era tudo muito atraente. Agora, que viajei fundo nesse emaranhado emoções disformes e perigosamente suicidas, percebi o meu engano. O que eu queria era oxigênio, aventura, psicodelia. Mas o mundo que eu encontrei termina um palmo depois do seu nariz.
Agora sim, depois de uma longa caminhada, eu preenchi as páginas que estevam em branco. E ainda há muita tinta por aqui. Ainda bem.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Bolinhas de Sabão

Veja bem: eu não sou obirgado
você não é obrigado

Todo mundo já tá dançando
No ritmo do verão
A porta tá entreaberta
A escolha é minha
A escolha é sua

Enquanto isso
A vida tá escorrendo
O tempo tá escorrendo
A paciência tá escorrendo
E a música não vai tocar pra sempre
No mesmo tom

Ora, veja só!
Hoje eu acordei
Com bolinhas de sabão azul piscina
Invadindo o quarto escuro
E por um instante inexplicavelmente brilhante
Eu vivi

Por que será?

sábado, 12 de julho de 2008

Eu te amo

Não tenho mais medo. Um dia, a eras atrás, já fui atingido por tuas ameaças. Agora, sou branco, limpo, uma cidade de tranqüilidade. Pode me ameaçar de morte. As suas balas não alcançam meu território. E nem ouse pisar aqui, porque aqui todos estão sedentos por te ver amarrado numa maca de hospital. Seu poder já era. Vais apodrecer caminhando em círculos, em volta de sua própria desrazão. Não vais conseguir nada. Suas palavras são como mosquitinhos simpáticos e inofensivos a fazer cócegas nos meus pêlos. Quando quiser, posso acionar um arsenal de repelentes.

Pode vir, meu caro. Pois vai ser com muito carinho que te apresentarei a abelha rainha.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ofício 13/2008

Venho por meio deste declarar, a todos vós, que se perfumam com incenso de enxofre, a compartilhar minhas mais intensas visões. Vejam! Cabelo de Cachorro Mau está com as mãos no portão, cigarro na mão, marlboro na merdinha.

Quando eu cago, vejo boiando pedacinhos de você. São fragmentos que já passaram por mim, mas mesmo assim, se perdem na descarga. Porém, hoje, justamente hoje, a minha descarga entupiu. Entupiu de desaforos, desabafos, e toda a erva verde da terra.
Quando senti vibrar, não imaginei que virias com tanta força. Algo assim, marcante e inesquecível, retornava do meu estômago, se tornando uma dor insuportável de nó na garganta. Era o refluxo de tudo o que te fiz passar.
Vou passear na tua casa, brincar no teu sofá, roubar tua TV, teus DVDs, e gritar tudo o que vier à cabeça no teu videokê. Não és meu pai.  Por isso, me sinto no direito de tomar o que não mereces. Vou levar tuas TVs, eletrodomésticos, vou levar comigo a tua cadela. Mas antes disso, deixarei as garras dela marcadas nas paredes de toda a tua casa. E irei embora no teu carro. Quando saíres na rua gritando pérfido, maldito e infame, a única silhueta que verás será a de uma jovem mulata, a esbanjar brasil, chamada Chagas Franco. Então, teu telefone tocará, e te direi que nunca, nunca fostes criativo, muito menos revolucionário, e que já vi muitos como você em minhas peripécias nos anos 60. Lembro como se fosse hoje: um amontoado de adolescentes, em franca decadência, marcando suas costas com pó preto, num ritual satânico e entregando seus corpos às rosas de seus jardins. Era outono, e te vi, ou melhor, era o seu pai. Estava a agarrar outro homem. Bonito, não? Pois é. Assim te deixo hoje, afogado no passado, e embaixo de ruínas solidificadas de um castelo em reforma. Apodreça. E não deixarei que tua corrupção prevaleça. Te denunciarei para todos, e levarei a verdadeira mensagem do amor e da arte para cada flor envenenada do teu néctar.

Em suma,

Não passas de um arcanjo medicinal tombado como patrimônio histórico inadequadamente, e terás que deleitar-se sobre suas próprias bermudas, quando molhares teu colchão das impurezas que exalam dos poros da tua pele. E nem pense em saltar este muro, porque o que encontrarás depois dele é um imenso barranco cheio de pedaços de mim. São pedaços de vidro, pedaços de um espelho, e meus sete anos de azar vão atravessas tua pele, deixando mil feridinhas até que você perca a memória batendo a cabeça numa pedra, chamada RUBI SAUDADE
EU TE AMO, ASTROVALDO, ESTAVA SÓ BRINCANDO

Belém, 11 de julho de 2008.

(recebido)

Visualização mental

Coisas que vejo. Um risco arrepiante que sobe pela espinha percorrendo o caminho da loucura, na lataria de um belo carro cinza. Um desenho de Deus, uma mensagem de morte, o retrato mais puro e fiel da vingança. Mãos no portão, coração na mão. Lágrimas no colchão. Cabelo de boneca velha arrumado, com uma pistola na mão. Pum. O som do tiro rasga o silêncio da noite, causando um calafrio invasivo de alívio. Pega a tesoura. Corta até o último fio de sua barba nojenta. Cretino. Cospe os restos de pureza de tuas entranhas. Por dentro és cinza, escalafobético, ósseo, sem razões para amar. Sem razões para continuar vivo.

Vim aqui apenas deixar as coisas mais práticas. As pessoas te cultuam, mas te odeiam. És um estorvo na vida de todos. E não vou permitir que estrague a minha. Não mesmo. Eu sou o frio que te invade a espinha até rasgar tua garganta, sou o som estridente da garra de um leopardo riscando as tuas latas douradas.

Pega uma carona comigo. Vou te mostrar um universo cor-de-rosa, de fios de cabelo quimicamente tratados a invadir toda a tua cama. Cada fio desse cabelo canino vai te prender o coração, não deixando pulsar mais nenhuma vez; e vai dividir a tua pela, rasgando-a como um pedaço de papiro que se enrola. E todos os montes e ilhas foram tirados de seus lugares.

Pode vir. Pode cumprir a tua função. Vem me escancarar meu destino, o caminho dos espinhos das rosas verdes do meu jardim. Vem adiantar as coisas. Assim, tudo se torna mais prático. me ajuda. Preciso de ti. Eu me rendo. Vem cortar o meu cabelo. Já posso até enxergar, o ralo do esgoto ficando entupido, e os meus cabelos melancólicos invadindo toda a cidade. E tudo vai se inundar. E o teu veneno vai se voltar contra ti, barbeiro da morte, e vais se afogar no circo sangrento que tu mesmo armaste.

Enfim, em breve te reencontrarei, e cantarei pra ti minha mais nova melodia: a do ensurdecimento.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Suprimido

Resumido a quatro paredes.
Todas seguem o mesmo padrão:disformes,inigualáveis e translúcidas.
Uma viaja em milhares interpretações desvairadas, de sentidos absurdamente aguçados.
Outra é filtradora, as vezes controladora, muitas vezes inconsciente.Por sinal sua rede anda meio furada.
Uma é fazedora, cumpridora, perfeita por m², não aceita inconseqüência.
E a outra não sabe, tem preguiça demais pra arranjar definição.
As vezes se reduzem a um pequeno cubo, só enchergam faces.Pouco raciocínio, muita razão, e um convívio aceitável.
Outras vezes se dispersam formando uma imensidão emocionalmente imcompreensível, racionalmente desconhecida e agradavelmente confortavel.Definindo aquela fina linha no horizonte entre loucura e liberdade.
Gosto daqui de dentro, tem uma tv e um controle, a opção é minha.