segunda-feira, 28 de junho de 2010

Coração!

(Por Haroldo França)

Eu sinto tanta falta de você. Sinto tanta falta de vir pra cá, e abraçar a você e a seu pai. Passo o dia lá, trabalhando, tentando resolver aqueles outros problemas. Ontem, eu passei o dia todinho pensando em ti, meu filho. Lembrando de quando você era criança. Era tão cheio de fé! Vivia pedindo pra ser batizado, mesmo antes do tempo. E nem venha me dizer que isso não é verdade, porque eu não estou mentindo! Você tem que escutar o que a sua mãe fala. Eu te amo tanto. Não consigo passar muito tempo longe de você. Se você for estudar em outra cidade, eu vou junto, tá? Quer morar com a mamãe? Risos...

Sabe, meu filho, a vida é assim. As pessoas crescem, e acabam tomando rumos. São puxadas por coisas que ouvem, aqui ou acolá. O inimigo prepara diversas armadilhas. Chega uma hora que a gente cria nossas próprias convicções, nos afastando da palavra de Deus. Não precisa fazer essa cara. Isso, não sou eu quem diz. É Ele. Eu sei que, mais cedo ou mais tarde, Ele vai tocar em seu coração. Pois eu sei o filho que tenho. Você não é nada disso, meu amor.

Filho, eu só quero te pedir uma coisa. Tenha temor. É muito ruim a gente andar desprotegido, sabe? Nós precisamos tanto da proteção do Altíssimo... e eu temo tanto por você, meu filho. Acredite na sua mãe. Ninguém ama mais a você do que eu e seu pai. Nem os seus amigos. Nós somos os seus melhores amigos.

Ontem, eu sonhei com você, de novo. Mas, dessa vez, não foi como aquele sonho feio, do outro dia. Aliás, prefiro nem lembrar daquele. Sonhei que você chegava comigo e com seu pai, e dizia que ia se casar.

Shhh. Fique tranquilo. Não chore. As coisas vão melhorar, meu filho. Basta que você tenha fé.

Eu te amo mais do que nunca.

domingo, 27 de junho de 2010

O horizonte esmagador das gélidas paredes brancas e desalmadas

(Por Haroldo França)

Hoje, eu moro só. Essa, aqui, é a minha nova casa. Eu gosto de ambientes assim, espaçoooooosos! Os móveis ainda não vieram. Bom, um dia eles vão chegar. Por enquanto, durmo naquele colchão ali, no canto. Pra mim, tá ótimo. Sempre quis isso. Viver livre. Viver pra mim. Não ter hora pra dormir, não ter hora pra voltar pra casa, nem pra lavar a louça. Nem pra tomar banho. Livre! Ah, e esse aqui tem sido o meu melhor amigo: o notebook. Posso ouvir as minhas músicas sossegado, e falar com a galera de Belém. Sim, me mudei de Belém. Até que enfim, né? Não sofro mais com todo aquele calor, nem com a gente mal educada. Freqüento festas ótimas, e não encontro, sempre, as mesmas pessoas. Aliás, aqui as pessoas são bem mais bonitas - e isso é muito importante! Hoje, eu transo muito. Risos! Transo em casa! Meus pais não estão aqui para decidir com quem querem que eu me relacione, e nem pra falarem de religião - graças a Deus! De vez em quando falo com eles, por telefone. Eles perguntam das novidades, e eu digo que está tudo bem. Aí, eles tocam naqueles assuntos chatos, e... bem... Ah! O mestrado também tá ótimo! A universidade tem estrutura; não enfrento ônibus lotados; e o mercado de trabalho, aqui, é bem melhor. Só tô com um pouquinho de dificuldade de fazer amigos novos. As pessoas parecem meio fechadas. Mas, nada que não se resolva com o tempo, né?

Ah, isso aqui, pingando? Não é nada, não. É que ontem, eu fui fazer a barba, e... não sei, acho que fiz de mal jeito, coloquei muita força... Ficou feio, né? Risos... Tentei estancar com papel higiênico, mas não adiantou muita coisa. Fazer o que, né? Resolvi deixar escorrer...Um dia, vai parar de sangrar.

Eu acho.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

É uma pena.

(Por Haroldo França)

Ninguém pode perder as incríveis promoções que transitam entre os gols do Brasil na copa e a máxima do feudalismo burguês. É uma pena. É uma pena que ninguém seja capaz de entender que tudo isso é apenas um  meio para se chegar ao ápice do freudianismo alemão condensado como bolhas viúvas de sabão. Quem faz sabão com as viúvas? A resposta é simples; Quem as come. E quem come sabão, meu rapaz, não é digno de confiança. Doravante, existem pequenas glândulas mamárias em minha cabeça que eu gostaria de tirar ATRAVÉS (sim, eu gosto de usar esse termo) de cirurgias plásticas. Se conseguir meu salário mínimo, farei não apenas um maravilhoso cruzeiro pla África, mas também maravilhosos dólares. Pegarei todo esse dinheiro e farei muitas cirurgias plásticas na minha vida, sem anestesia.

-Boa tarde, doutor.
-Qual a sua graça?
-Valdomiro Diniz.
-É um belo nome.
-Melhor ainda é o nome da minha mãe: Cocota.
-Tenho em me jardim uma bela plantação de cocotinhas.

(os dois riem de lado)

-Então, Vavá, me diga, o que está acontecendo?
-É a minha vida, doutor...
-Realmente, vejo que há uma pequena assimetria...
-Preciso dar uma recauchutada geral.
-Acho que aqui, na mãe, podemos cortar um pouco de excessos. Nas filhas, um pouquinho de silicone não faria mal. Faremos também uma vaginoplastia em seu avô.
-Mas ele está morto.
-Por isso mesmo! E suas tias serão amarradas com fio russo.
-Está certo disso?
-Posso perguntar?
-Risos.
-E aqui, nas suas covas, colocarei uns punhados de terra, e embaixo deles estará o cadáver.
-Que cadáver?
-Aquele, que te pegou atrás do armário!

E assim caminha a humanidade. Pena.