- Entra!
- Não quero. Tenho medo de você.
- Porque?
- Não sei. Apenas tenho medo.
- Eu não mordo.
- Não tenho certeza. Tua cara me faz sentir flores em mim. Qual é o teu problema? Porque não ages e reages normalmente? Acaso és de pano? Não tens vida?
- Eu só queria que viesses até mim.
- Não sei com qual intuito.
- Eu queria tanto te abraçar...
- Sai de perto de mim! Não tens porque quereres isso. Acho que és louco.
- Não, não sou louco. Vamos até a beira do rio.
- Só se prometeres não segurar minhas mãos.
- Não segurarei. Só queria sentir teu cheiro.
- Porque ainda estás com esses óculos? Não te avisei que assim não enchergarias a verdade que quero te mostrar?
- Não, eu tenho medo. Prefiro acreditar no que vejo. Prefiro ver apenas o que acredito que exista e que seja.
- Covarde. Nunca vi alguém tão covarde.
- Não sou covarde.
- É, é sim. Não apenas covarde, como burro. Não sentes que necessitas de algo maior? Tua vida é oca, meu amor. Eu sinto, vejo isso. Deixei meus óculos na beira da estrada, e eles foram quebrados. Agora só vejo a verdade nua e crua, não sinto aquela fantasia efêmera que sentia... Sinto falta. Queria lentes que me afastassem desse cinza em que me transformei. Não acredito em mais nada, nem em você.
- Eu não quero e nem peço que acredites em mim.
- EU NÃO ACREDITO EM TI, JÁ DISSE!
- Eu não quero isso.
Quebrou os óculos. Tirou-o da realidade fantasiosa de pedras coloridas e embalsamadas. Raspou-lhe as sobrancelhas e cortou-lhe o cabelo. Agora estava nu, estava cru em carne e em espírito. Já podia ver, mas não o queria. Quis matá-lo. Quis matá-lo. Quis entregar-lhe pedras cintilantes, onde répteis defecavam. Odiou o mundo.
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