quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Casamento meu bem

Com seus sapatos voadores e sua voz grave viu as pessoas dizendo adeus, foi criado em um bairro estranho, diferente dos outros tinha um nó no estômago, seu rosto era daqueles confiáveis para se perguntar as horas. Deve fazer sentido falar dele, um transeunte cheio de carga naturalmente positiva e a seu bom grado negativa.
Com uma dança estranha se tornava rei do chuveiro e o mundo pós-porta sumia, ele tentava ser despojado, mas esquecia o nome da recepcionista na entrevista de emprego, seu coração parecia sempre estar prestes a pular na bancada. Tinha potencial para ser galã aos cinqüenta anos, enquanto isso suas sobrancelhas cheias dariam conta da vontade galante de se envolver na penúltima música.
Para ele o mundo é um parque estranho pulsando vermes coloridos, é atrasado para ser feliz e bom a todo momento. Parece que tudo está bem nos vestidos florais das crianças e as águas parecem se debater tranquilamente, da janela dele a revolução é a hora do rush. No papel da lista do supermercado as pequenas crianças céticas fazem desenhos de pessoas com olhos imensos e corpos miseráveis, escaldando debaixo de um sol ironicamente sorridente na visão do homem carga naturalmente positiva. Quando for pai achará as esquinas perigosas, mas continuará populando sem planejamento e esse não será o quadro para o qual se sente prazer de olhar nos cafés da manhã.
Sua dança é coreografada e sua farsa é fácil de ser descoberta, se o ônibus lhe esperasse seria ele mais completo. Está tentando ser emancipado de tudo de novo, mas ainda queima as torradas feitas dos pães de ontem. Raspou o cabelo no banheiro imaculado de uma peixaria e mudou o comportamento, é voyeur dos seus amores cretinos, ele é o homem.
Quer mudar esse jeito covarde, lamber as melhoras do espaço, reproduzir o estilo de um cara modista. Vou logo avisando que é difícil ser um copiador, a respiração da mentira é acelerada e as pessoas vão te pegar no pulo. É perigoso a trajetória de um corpo desprezado e cheio de complexos que a vida amamentou, fico feliz se a terapia das terças funcionar e se o boliche for o suficiente para espantar os medos dele.
Abra os braços, misture teus lábios com o meu cérebro, esse momento será uma espécie de stripper filosofal, quebre suas carências durante cada passo desse jogo de câmeras. De repente pode aparecer um substituto e arrancar tua alma para fazer alguma coisa feliz ao longo do sorriso de quem volta para a parte difícil do couro cabeludo da loucura. Andarilho feroz em círculos ambiciosos de paixão e sucesso, apostando na mesa de grama todo seu olfato de campeão haras, assim que te quero.
Me assista dando pulinhos na corda colorida de crochê, estou dançando com as cortinas e obviamente cantando as canções de Sinatra. Sou a noiva mais feliz de três quadras no bairro mais antigo da cidade. Sou a noiva que diz que chá é bom para circulação. Não importa os anos que se passaram, esse momento é um livro pesado, as ligações que trocamos serão pagas pelo padre e não há nada perfeito, mas de resto tudo vai indo bem. Dividas e panquecas nos esperam nos próximos anos, fique feliz comigo, finalmente amando um lírico, nossa foto na parede, tu colorindo meus juramentos e os gritos calados dos lençóis de núpcias.
Tem uma besta dentro de mim quando pareço esquecer que estou presa a ti, o relaxamento na banheira não resolveu, sou rápida na roleta russa e algumas vezes eu fui boazinha, era uma garota cheia de presentes na voz, ganhava qualquer um, já disse, tenho uma besta quando tenho raiva de alguém, plano azedo na cutícula, o nervosismo te matará pela boca.
Sou a mulher que dança dentro da seringa dos hormônios à pupila dos olhos. Tenho milhares de faces para te mostrar, faço sua ferida secar, canto todas as cantigas de vegans e carnívoros. Vou dirigir, cruzar países contigo absorto nas palavras cruzadas nível avançado, não seremos os namoradinhos do Brasil, seremos os nojentinhos dos postos de gasolina beira estrada e quando me amares eu te deixarei no primeiro boteco fim de mundo.
Todos os dias sentamos lado a lado e tu nunca esboças nada, ficas aí idiotizando tua própria carcaça que grita por um beijo molhado e cruel na tua nuca, que vê e percebe o mundo melhor do que um pássaro preto, cheio de blondor nas asas surradas de malicias por um ser humano de brutalidade esporádica. Te amo porque não corres para mim, não sonhas em possuir e sabe muito bem contemplar.
O barulho das tuas pernas inquietas no sofá de couro me enlouquece de raiva, quero me ver livre da sala de espera, do palitar dos teus dentes, tenho raiva porque tua pele tem poros. Tu me destes mais do que alguém teve coragem de tentar, gosto de ser a besta, nesse ponto a proteção de Aquiles é não dizer o nome.
Se me apaixonar serei a maluca que anda pelas ruas com os seios de fora sem os seios de fora, mesmo assim pretendo correr o risco. Não me diz que a ampulheta foi roubada, eu preciso sentir que estou me vulnerabilizando. Dessa vez o meu plano é me sentir uma ex-criminosa porque tudo que espero é tomar um café descompromissado contigo, com a minha pior face, a que ama.
As paredes descascaram esse final de semana e todas as embalagens de biscoito estão dentro da pia sendo corroídas pelas formigas do brigadeiro fundo de panela. Minhas axilas sentem falta do desodorante da moda veraneio e as remelas do meu olhar estão gritantes e até bonitas, mas apenas para quem consegue se acostumar com o reflexo maltratado da maquiagem velha no espelho. Dessa posição posso pegar o copo com água enquanto uma barata assustada corre em cima das pontas duplas do meu cabelo queimado cacheado de lua.
Tem um cachorro lambuzado de maniçoba olhando os livros de sebo na bacia amarela de roupa limpa, ele coloca a língua para fora e cospe um abajur cor-de-rosa da casa da morena de neve, cujas pernas são a estrada do veludo de um Cônsul mudo. Passaram-se sete dias dessa aventura de podridão ao meu redor e já não sou a mesma. Sou Jack White recortado e colado na mesa de uma freira que quer ter uma família, sou um chinês de Nova Orleans, sou um Vestido nudista comendo vatapá.
Não entendo porque minha opção te quebra, quero mostrar algo que ninguém entende, vou para lugar nenhum passando por um ponto fixo. Uma orquídea sonegou o imposto de renda e ninguém a perdoou, é uma escrava do floricultor, obrigada a ser rosa nas quintas e no happy-hour hortelã.
As paredes descascarão no próximo final de semana e não quero estar aqui, vou ser feliz, reclamar de sorvetes derretidos, experimentar roupas de departamento e ler livros emocionantes com um recurso externo, o sacolejar do ônibus.
Quero engolir todas as pessoas interessantes, saboreá-las devagar, mas com a rapidez de um para sempre. Cada sorriso de começo de piquenique, cada risada de maçã verde e cada esvoaçar de cabelo sedutor, vou pôr na boca e falar como um mal-educado no jantar do Itamarati. Quero sentar na varanda e arrancar a pele do melhor poeta do vilarejo, que fica nos confins de um país coadjuvante, onde as mulheres são o banho quente do homem congelado na poesia do afago e na ética comportamental.
Se abrires a janela meu corpo flutuará despido por uma linha eletrônica invisível, enquanto isso minhas mãos te escrevem um pedido de desculpas daqueles que ficam entre a geladeira da década de oitenta e um imã que se ganha em um chá de bebê.
Se não tivesse as unhas do pé veria minha pele daqui a quarenta anos, seria mais praiano mesmo odiando praias, não preciso de unhas para engolir as cartas, as pessoas, os jornais, a sonoridade dos Hendrixs e o olhar melancólico dos Buarques. Vontade estranha de comer cebolas descascadas com faca azul e ver as lágrimas falsas brotarem.
Comi seis batatas cruas a semana inteira, o cheiro de leite com ovo delas me impregnou os lábios, foram dias que me queimaram o pensar e me aguçaram o sentir. Comi os minutos contigo, engoli nossa conversa fila de banco e regurgitei um livro de sorrisos teus, teorias cotidianas, defeitos físicos bonitos que saltaram do teu corpo para o meu querer, olhei para ti com o olhar canibal da ilha dos que amam o interessante. Era errado não me importar com o tempo, com as responsabilidades momentâneas.
A vida ia seguindo seu curso nada natural e as bibliotecas se partiam mais verdadeiras e a fauna gritava mais psicodélica, eu era uma espécie de velho cirurgião cuja as mãos tremiam com o bisturi, tu eras a obra e a própria moldura, quis te levar para ser minhas manhãs e meu recostar no travesseiro dos cochilos da tarde.
Agora depois de te conhecer sou o ingresso do teatro municipal rasgado ao meio, parte perto do espetáculo e parte na contagem emocionante da bilheteria.

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