segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aquelas elas

ELA- É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”. Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço. Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado.

(entra em cena Aquela)

AQUELA- Seu sorriso sacana profissional até parece bonito daqui.

ELA- Quando chegas falta em mim cartas na manga, manga da manga e não manga da blusa.

(pausa)

AQUELA- Consigo pensar que a culpa sempre foi minha.

ELA- Trinta mil portas se fecharam pelas minhas costas, cada canto do meu quarto está imundo. Mas desde que te conheci só quero arrumar meu paladar e inventar a desculpa de perguntar as horas pra manter contato.

AQUELA- Aceita passar a insônia na sorveteria? Serei o sorvete de manga e você o de menta.

ELA- Quero gargalhar vendo as palmilhas dos nossos tênis encharcadas pela chuva.

AQUELA- Ofereço-te a frase mais pós-moderna e romântica: Toma um suco comigo.

ELA- O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa. Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde.

AQUELA e ELA- Vivas ao anagrama de ROMA.

(se abraçam)

AQUELA- Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.

ELA- Ouve! (começa a tocar uma música) É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador.

AQUELA- É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porque esse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada.

(dançam juntinhas, depois, aquela se retira e ela volta à posição inicial)

ELA- Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.

Nenhum comentário: