ELA- É como se eu tivesse ficado sentada de pijama no quintal, esperando um pé de feijão brotar do algodão molhado. Já diz o poeta: “Acorda, acorda Joana! As palavras que dão tremilique nas pernas foram ditas”. Vou sem muita vontade pra frente do espelho escovar os dentes, do molar ao molar, matutando sobre a refeição dominical e escolhendo a melhor alface para a salada. Podes então pôr sal no que eu esqueço. Loça suja na pia, lavar não quero, conversar contigo?! Aceito de bom grado.
(entra em cena Aquela)
AQUELA- Seu sorriso sacana profissional até parece bonito daqui.
ELA- Quando chegas falta em mim cartas na manga, manga da manga e não manga da blusa.
(pausa)
AQUELA- Consigo pensar que a culpa sempre foi minha.
ELA- Trinta mil portas se fecharam pelas minhas costas, cada canto do meu quarto está imundo. Mas desde que te conheci só quero arrumar meu paladar e inventar a desculpa de perguntar as horas pra manter contato.
AQUELA- Aceita passar a insônia na sorveteria? Serei o sorvete de manga e você o de menta.
ELA- Quero gargalhar vendo as palmilhas dos nossos tênis encharcadas pela chuva.
AQUELA- Ofereço-te a frase mais pós-moderna e romântica: Toma um suco comigo.
ELA- O espremer da nuvem mais próxima será nossa festa. Esqueça as cabeças cortadas do caderno policial, veremos quinta-feira na hora caos da cidade uma pintura pós-moderna com cheiro de cheiro-verde.
AQUELA e ELA- Vivas ao anagrama de ROMA.
(se abraçam)
AQUELA- Antes de dormir quero ter um ataque de retorno. Vou fazer com que comas quinze torradas queimadas, assim saberás como é tentar falar sobre a beleza e a unidade contida no teu abraçar.
ELA- Ouve! (começa a tocar uma música) É a última música da noite, dá para ver esse momento pode ser insano e capturador.
AQUELA- É perigoso te achar tão doce. Só quero ficar aqui e atrasar o sol, porque esse pode ser o último refrão e é preciso te puxar para um abraço disfarçado de dança desajeitada.
(dançam juntinhas, depois, aquela se retira e ela volta à posição inicial)
ELA- Quem me dera que todos os sorrisos fossem de cinema e que todas as brigas acabassem em uma doceria.
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