domingo, 9 de novembro de 2008

Ônibus

- Oi, quanto tempo! Posso sentar ao seu lado?

- Ah, oi! Pode sim. Não repara não, é que eu estava "viajando"...

- Ah, você está viajando?

- É, estava perdida olhando pro horizonte.

- Ah sim.

(longo silêncio)

- Você está bem?

- Sim, estou. E você?

- Também.

(silêncio de mais de 10 minutos)

- Será que vai chover?

Olhando com um olhar quase que angustiante, de quem não tem mais saída.

- Acho que não.

Ela já esboçava um quase-sorriso, ao respondê-lo. Ele já meio conturbado, sem saber o que fazer, explode:

- Escuta, estás passando por algum momento ruim, algum problema profundo, por um acaso?

- Não. Porque?

- É essa sua cara... essa sua cara. Estás com um olhar tão penetrante que ao menos consigo encará-la.

Ela não falava nada, exatamente por não querer falar nada. Não sabia por que, mas não se incomodava mais com esses silêncios prolongados. Agora gostava. Também não via maneira de se explicar o porquê de não estar pelo menos se esforçando pra criar algum tipo de comunicação entre ela e o velho conhecido. Apenas não sentia a necessidade de saber, perguntar sobre a vida dele pelo simples fato de não ela não querer. Não queria, não perguntava. Gostou do silêncio, gostou daquela situação estranha, sabe-se lá por que.

- Ah, é. Não ligue pra isso, é só a alergia.

- Bom... essa é a minha parada. Até um outro dia, quem sabe.

- Até.

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