sexta-feira, 21 de maio de 2010

Minha pequena Eva

(por Delianne Lima)

Saí da sala e senti tanta energia. Energia fluindo e só. Os gritos, o "telemarketing". A Eva queria ser Lady Gaga.

"Polishop, boa tarde.
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Sobrancelhas cerradas. Piscadas lentas, bem lentas, demonstrando contida impaciência. Olhar de ódio e gestos contidos. Mexe nos cabelos, gostaria de dar um soco. Responde. Responde com eficiência raivosa. Queria ser atriz.

Estalar de dedos, respiração forte. Boca e músculos contraídos.

Eva me lembra sentido e porque. A busca de um fato qualquer que mude completamente o rumo da sua vida. Um sonho qualquer. Um sonho qualquer não, mas apenas um. Um específico. Queria tanto.

Logo me lembro da batalha bruta contra a rotina enlouquecedora, que tira a vontade e sentido de algumas vidas. Também me veio à mente o conto "O Corpo", de Clarice Lispector. As duas protagonistas procuram loucamente um fator que as leve à loucura e à uma realização pessoal que se torna grande meta.

Eva me lembra música.

Esse é o teste. O teste dos porquês.

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