domingo, 27 de junho de 2010

O horizonte esmagador das gélidas paredes brancas e desalmadas

(Por Haroldo França)

Hoje, eu moro só. Essa, aqui, é a minha nova casa. Eu gosto de ambientes assim, espaçoooooosos! Os móveis ainda não vieram. Bom, um dia eles vão chegar. Por enquanto, durmo naquele colchão ali, no canto. Pra mim, tá ótimo. Sempre quis isso. Viver livre. Viver pra mim. Não ter hora pra dormir, não ter hora pra voltar pra casa, nem pra lavar a louça. Nem pra tomar banho. Livre! Ah, e esse aqui tem sido o meu melhor amigo: o notebook. Posso ouvir as minhas músicas sossegado, e falar com a galera de Belém. Sim, me mudei de Belém. Até que enfim, né? Não sofro mais com todo aquele calor, nem com a gente mal educada. Freqüento festas ótimas, e não encontro, sempre, as mesmas pessoas. Aliás, aqui as pessoas são bem mais bonitas - e isso é muito importante! Hoje, eu transo muito. Risos! Transo em casa! Meus pais não estão aqui para decidir com quem querem que eu me relacione, e nem pra falarem de religião - graças a Deus! De vez em quando falo com eles, por telefone. Eles perguntam das novidades, e eu digo que está tudo bem. Aí, eles tocam naqueles assuntos chatos, e... bem... Ah! O mestrado também tá ótimo! A universidade tem estrutura; não enfrento ônibus lotados; e o mercado de trabalho, aqui, é bem melhor. Só tô com um pouquinho de dificuldade de fazer amigos novos. As pessoas parecem meio fechadas. Mas, nada que não se resolva com o tempo, né?

Ah, isso aqui, pingando? Não é nada, não. É que ontem, eu fui fazer a barba, e... não sei, acho que fiz de mal jeito, coloquei muita força... Ficou feio, né? Risos... Tentei estancar com papel higiênico, mas não adiantou muita coisa. Fazer o que, né? Resolvi deixar escorrer...Um dia, vai parar de sangrar.

Eu acho.

2 comentários:

DJ Masa disse...

Um dia vai parar de sangrar pra todo mundo... (e o laser será acessível)

Adhara disse...

Sinto falta de ver as mesmas pessoas nas festas, sinto falta do cheiro da chuva das três da tarde, sinto falta de ir nos mesmo lugares, sinto falta de reclamar da educação das pessoas. Por aqui eles não são muito diferentes, as conduções estão sempre lotadas, as pessoas não são tão simpáticas, elas são muito fechadas sabe? eu gostava daquela hospitalidade, em qualquer esquina tinha um senhor, bêbado ou não, pra puxar papo com você. Aqui parece que até os mendigos são auto suficientes. No máximo tinha assaltos, seqüestros relâmpago pra assaltar bancos, não ouvia-se falar de chacinas nem de assassinatos por encomenda.
Tenho medo daqui as vezes, me sinto perdida, fora de órbita. É uma realidade assustadora. Queria voltar a abraçar algumas pessoas, beijar outras, bater em mais algumas. De vez em quando até sinto falta da minha mãe, do cheiro dela, dos gostos dela, do abraço, do som da voz, só não das palavras.