O carneirinho se foi
O carneirinho morreu
Que saudades do carneirinho
Ficou sozinho no breu
O chão vibra com as batidas da música. Ele lá. Os olhos fechados. A Elefanta Bailarina é extravagante e desinibida. Decide começar o seu show. Os holofotes se acendem e ela fica de pé sobre a cama. Apesar do tamanho, os movimentos são de uma precisão ninja. Sapateia, então, no corpo dele. Começa triturando os joelhos, até esmagar a cabeça. Em seguida, rodopia, se equilibrando em uma pata só, na barriga dele. Ele fica sem fôlego. A elefanta bailarina é sutil e graciosa. Ela dá um salto mortal. Seu corpo rodopia no ar, em câmera lenta. Ele pode vê-la, mesmo de olhos fechados. O corpo dela, então, cai sobre o dele como pedra n'água. Os olhos dele querem saltar das órbitas, mas ele precisa mantê-los fechados. Ele sabe que não pode fugir da elefanta bailarina. Se fugir será pior. Certamente será. A música acelera. É frevo. A Elefanta Bailarina pega o seu guarda-chuvinha. Ele está angustiado. Sabe que, no dia seguinte, as pessoas não vão entender. As pessoas não convivem com a Elefanta Bailarina. Samba. O corpo dele é usado como Marquês de Sapucaí. A Elefanta Bailarina é mestre-sala. A Elefanta Bailarina é porta-bandeira. Há um carro alegórico com uma Elefanta Bailarina gigante, cheio de Elefantinhas Bailarinas dançando em volta, com as mamas de fora. Há também a manada de bateria, da qual a Elefanta Bailarina é rainha. O tema do samba-enredo dessa noite é: a Elefanta Bailarina.
O show dura várias horas. Quatro, cinco, seis, sete, oito. Enquanto isso ele permanece ali. Olhos fechados. Fingindo que vai dormir. Fingindo pra si.
(Texto escrito pela Elefanta Bailarina, ao som de "Jealous of my boogie" enquanto Haroldo França tentava dormir)