Por Delianne Lima
A cor do aparelho iluminava a vista a ponto de ensurdecer a
luz solar. Era claro. Tão claro que Maria Eduarda não suportava ver. Enquanto fugia
daquela claridade absurda, os pensamentos brotavam como brotoejas. “Mas como
não posso enxergar se fui eu que coloquei aço na boca de alguém tão sorridente?”.
Nunca quis ser dentista. Herdou o consultório e todo o
aparato do pai que orgulhava-se, faceiro, da filha que seguia a sua carreira. “O
que? Maria Eduarda? Ah, essa é uma menina de ouro. Vai ser a melhor dentista dessa
cidade. Quiçá do país!”.
A maior fraude.
Maria Eduarda encarava o pai com aquele sorriso fútil e
supérfluo mas não amarelo, pois havia cuidado daqueles dentes com esmero. Quase
que com ódio. Tudo para conseguir a atenção dos pais.
Seu Admastor Corista sempre dava os presentes mais específicos. Aparelhos, jogos, brinquedos de dentista. A menina cresceu com aquela pressão famigerada.
Seu Admastor Corista sempre dava os presentes mais específicos. Aparelhos, jogos, brinquedos de dentista. A menina cresceu com aquela pressão famigerada.
Acabou por ceder.
Pelo menos assim conseguia conquistar a afeição do pai. Ou
pelo menos achava conseguir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário