quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Senhor Armando

Por Delianne Lima

Todos os bancos daquela avenida eram cinzentos, sem cor. Até que um dia, resolveram pintá-los. Escolheram verde petróleo. Só que, de cinza, não mudou muita coisa. Sentado em um daqueles bancos, o Senhor Armando passava suas tardes jogando gamão com alguns compatriotas. Naquela terça-feira, o pacote estava pronto: seu antigo boné de algum vereador desconhecido, uma camisa meio desabotoada devido ao calor e, claro, sua garrafa de Cerpa. A cerpinha de cada dia era sua mais fiel companheira.

Para começar as partidas sacramentais de gamão, alguns de seus amigos que trabalhavam nos arredores sentavam-se nos bancos. Senhor Armando nunca ganhava uma partida sequer, mas se sentia feliz com sua rotina diária.

Porém, um dia pintaram os bancos de outra cor: vermelho. Essa cor amedrontava o Senhor Armando de uma forma ensurdecedora.

Nunca mais jogou gamão.

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