Por Haroldo França
Alzira estava sentada na mesma posição há duas horas. Na TV, algumas letrinhas subindo. Seus braços apoiados nos braços da poltrona. Respiração calma. O final da história foi emocionante. O filme fez Alzira esquecer da vida. O cinema é uma morte transitória. As letrinhas continuaram subindo e Alzira permaneceu imóvel, na tentativa de prolongar um pouquinho mais esse não viver. Alzira mora só, e aos quarenta, seu maior medo é passar o resto de seus dias sem ter para quem cozinhar além de si mesma. Os créditos do filme acabaram e junto com eles a música que a fazia relembrar os melhores momentos daquela obra de arte. Ao lado da TV, a lista de compras do supermercado. Alzira apoiou os cotovelos sobre os joelhos. Passou a mão por entre os cabelos bagunçados. Fechou os olhos. Respirou devagar e profundo. Abriu os olhos. Umedeceu os lábios. Levantou-se.
Nenhum comentário:
Postar um comentário