quinta-feira, 5 de abril de 2012

Grande e peluda

A plenitude é uma aranha enorme. Enorme, grande e peluda. Mas ela gosta de se camuflar de gatinho. Vem e te convida à imensidão dos pelos e carinhos e olhares furtivos. Vem e ronrona quando passas por perto. Daí chega, te entretém e pronto: sentes a plenitude.
Primeiramente a enxergas como a perfeição nas tuas mãos. É tudo aquilo que sempre sonhastes, que sempre quisestes ter por perto, em ti. Dentro de cada partícula do teu ser, das linhas das tuas mãos, das linhas da tua vida. Daí vem o futuro, que se torna presente – bem presente – e retira a carapuça.
Eis a aranha.
Maledita.
Eis o susto.
Eis o medo.
A aranha chega cada vez mais perto e te mostra a rotina, o vazio, o desejo de mais, cada vez mais. Parece que um buraco fundo te entorpece e entorta teus passos pra cair cada vez mais fundo. Depressão.
Como sair? Não sei. Parece que a ideia é ser forte. Forte e resistente e nunca perder a esperança de que, uma hora ou outra, tudo vai mudar. Mas, mudar pra que, se a plenitude já tá aqui? Não é esse o grande objetivo da vida? A grande busca de todos? A plenitude traz com ela a felicidade, não é? Acho que felicidade é que nem droga. Felicidade tem um certo tempo de duração, mas logo vai embora e traz a aranha gigante. Enorme e peluda.
A plenitude é uma cilada.
Quer dizer que a grande ideia de se aproveitar a vida é ter problemas sempre, dúvidas, dores, sofrer e fazer sofrer? Fazer merda, propriamente dita?

A ideia de se viver bem é o caos. Só deve ser.

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