segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Líquido

Por Haroldo França

Era um pingo de gente, deslizando numa correnteza fortíssima de gente em direção ao agora. Desaguam na contemplação do tempo presente, e do caro consumo da quantidade. Era um pingo de gente. Todos falavam, falava, falavam, e o conteúdo não importava (tinham plugs no lugar de órgãos genitais; assim poderiam fazer o verdadeiro "sexo seguro", no qual seria possível a mera conexão sem sentimentalismos ou o risco da desilusão amorosa). Pingos de gente. E entre eles, surgia um, surgia ela. A gota. O que a fazia diferente dos outros? Não era apesas o estilo musical, ou suas roupas, ou sua beleza física, tampouco a inteligência. Era inexplicável. O que fazia essa gota ser "alguém" era uma conexão mais profunda e espiritual do que a almejada pela massa. É a sensação de estar com alguém especial, com quem se construiu alguma coisa, que significa alguma coisa. O que faz alguém na multidão se tornar "alguém", de fato, com quem você se importaria além de você mesmo no caso de uma catástrofe que pusesse em perigo a vida de todos; não é mera afinidade. É amor.

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