sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ofício 13/2008

Venho por meio deste declarar, a todos vós, que se perfumam com incenso de enxofre, a compartilhar minhas mais intensas visões. Vejam! Cabelo de Cachorro Mau está com as mãos no portão, cigarro na mão, marlboro na merdinha.

Quando eu cago, vejo boiando pedacinhos de você. São fragmentos que já passaram por mim, mas mesmo assim, se perdem na descarga. Porém, hoje, justamente hoje, a minha descarga entupiu. Entupiu de desaforos, desabafos, e toda a erva verde da terra.
Quando senti vibrar, não imaginei que virias com tanta força. Algo assim, marcante e inesquecível, retornava do meu estômago, se tornando uma dor insuportável de nó na garganta. Era o refluxo de tudo o que te fiz passar.
Vou passear na tua casa, brincar no teu sofá, roubar tua TV, teus DVDs, e gritar tudo o que vier à cabeça no teu videokê. Não és meu pai.  Por isso, me sinto no direito de tomar o que não mereces. Vou levar tuas TVs, eletrodomésticos, vou levar comigo a tua cadela. Mas antes disso, deixarei as garras dela marcadas nas paredes de toda a tua casa. E irei embora no teu carro. Quando saíres na rua gritando pérfido, maldito e infame, a única silhueta que verás será a de uma jovem mulata, a esbanjar brasil, chamada Chagas Franco. Então, teu telefone tocará, e te direi que nunca, nunca fostes criativo, muito menos revolucionário, e que já vi muitos como você em minhas peripécias nos anos 60. Lembro como se fosse hoje: um amontoado de adolescentes, em franca decadência, marcando suas costas com pó preto, num ritual satânico e entregando seus corpos às rosas de seus jardins. Era outono, e te vi, ou melhor, era o seu pai. Estava a agarrar outro homem. Bonito, não? Pois é. Assim te deixo hoje, afogado no passado, e embaixo de ruínas solidificadas de um castelo em reforma. Apodreça. E não deixarei que tua corrupção prevaleça. Te denunciarei para todos, e levarei a verdadeira mensagem do amor e da arte para cada flor envenenada do teu néctar.

Em suma,

Não passas de um arcanjo medicinal tombado como patrimônio histórico inadequadamente, e terás que deleitar-se sobre suas próprias bermudas, quando molhares teu colchão das impurezas que exalam dos poros da tua pele. E nem pense em saltar este muro, porque o que encontrarás depois dele é um imenso barranco cheio de pedaços de mim. São pedaços de vidro, pedaços de um espelho, e meus sete anos de azar vão atravessas tua pele, deixando mil feridinhas até que você perca a memória batendo a cabeça numa pedra, chamada RUBI SAUDADE
EU TE AMO, ASTROVALDO, ESTAVA SÓ BRINCANDO

Belém, 11 de julho de 2008.

(recebido)

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