quinta-feira, 31 de maio de 2012

Das verdades que vêm de dentro

Uma cratera se abriu embaixo da nossa mesa. Vi um de meus grandes amigos ser engolido subitamente pela terra. Parecia tudo tão bem até então. Conversávamos sobre vida profissional. Papo agradável, cerveja gelada. Foi um susto. Levantei atordoado, e urubus levaram para o céu os corpos de outros amigos que ali estavam. Restou apenas eu.

Imediatamente, corri. Respiração frágil. Fui para o meio da rua e carros atravessaram meu corpo sem me tocarem. Percebi que eu já não tinha mais sombra. Nem massa. Nem cor. Invisível. Então atravessei paredes, entrei em casas, salas, quartos, tentei sacudir as pessoas e gritar por socorro, mas elas, nada. Tudo ao meu redor começou a se apagar. Existência se diluindo no vazio. Lágrimas sem olhos. Vapor.

Até que senti alguém cutucando o meu ombro. Eram eles. Estávamos no mesmo lugar. A mesa do bar. Tudo normal. Tudo claro. Eu olhei em volta, e comecei a rir. "Liga torta", pensei. Conversávamos sobre sexo e relacionamentos. Descobrimos que somos tão parecidos! Sabe, eu gosto deles. São pessoas tão próximas a mim. Tão queridos. É realmente uma pena que eu não consiga lembrar seus nomes.

Por Haroldo França

Um comentário:

delianne lima disse...

Acho que os urubus eram eles mesmos.